Em certa ocasião, um leão dirigiu-se a um lago de águas espelhadas para acalmar a sua sede. Ao aproximar-se do mesmo, viu o seu rosto reflectido e pensou:”Bom, o lago deve pertencer a este leão. Tenho de ter cuidado com ele.” Assustado, afastou-se da água. Mas tinha tanta sede que, passado um bocado, regressou. E lá estava outra vez o leão. O que fazer? A sede asfixiava-o e não havia outro lago ali perto. Retrocedeu. Minutos depois, voltou a tentar. Ao ver o “leão”, abriu a boca e franziu o focinho de forma ameaçadora, mas ao ver que o outro leão fazia a mesma coisa, sentiu pânico e fugiu a correr. Mas tinha tanta sede! Fez várias tentativas, mas fugia sempre aterrorizado. No entanto, como a sede era cada vez mais intensa, tomou finalmente a decisão de beber água do lago acontecesse o que acontecesse. Assim fez e, ao meter a cabeça na água, o “leão” desapareceu.
O pior medo é o medo do medo. O medo imaginário condiciona-nos e limita-nos, mas ninguém está livre dele. Porque a mente é um ilusionista muito hábil e, muitas vezes, faz-nos ver e interpretar o que não é. Há medos que se desvanecem assim que somos capazes de os enfrentar, mas nem sempre podemos exigir-nos a nós mesmos ser tão intrépidos. O medo tem uma raiz muito profunda em toda a criatura viva, que será preciso ir desenraizando com muita paciência. Os mestres dizem:”Se fores capaz de enfrentar o medo e atravessá-lo, dissolvendo-o, fá-lo; mas se não fôr possível para já, não geres conflito e aprende a conviver com esse medo enquanto o vais transformando. Ao mesmo tempo que nos vamos integrando interiormente, muitos medos vão-nos abandonando de uma maneira tão natural como a criança, ao crescer, vai deixando os seus brinquedos.”
Retirado de “Os melhores contos espirituais do Oriente” de Ramiro Calle.
Fantástico este conto e com um ensinamento tão verdadeiro.
jinhos